Meio século de história
Academia Caxiense de Letras, fundada em 1962, comemora jubileu
Corria o ano de 1962 quando, numa tarde de junho, um grupo de
apaixonados pela literatura, incluindo nomes como Cyro de Lavra Pinto,
Joaquim Pedro Lisboa e João Spadari Adami, resolveu fundar a Academia
Caxiense de Letras. Passados 50 anos daquela primeira reunião, realizada
numa saleta aos fundos da barbearia Pérola, de propriedade de Spadari, a
ACL recebe amanhã às 19h30min, na Câmara de Vereadores, uma homenagem
pelo seu jubileu de ouro, comemorado oficialmente no próximo dia 1º.
Com
40 cadeiras, seguindo os moldes da Academia Brasileira de Letras, a ACL
conta hoje com 33 acadêmicos e alguns simpatizantes. A intenção é, até o
final do ano, completar o número de vagas, fato inédito nesse meio
século de existência, conta a atual presidente, Marilene Caon
Pieruccini:
– O grupo fundador tinha cerca de 10 pessoas. No dia
seguinte (da fundação), o Cyro de Lavra Pinto, o primeiro presidente,
colocou o livro de atas debaixo do braço e foi batendo nas portas de
pessoas que gostavam de literatura, até chegar a 40 assinaturas, mas
muitos não chegaram a frequentar a ACL.
Marilene, que mergulhou
em pesquisas para a produção de dois livros – um que será distribuído
nesta quinta, com textos dos atuais acadêmicos e alguns dados
históricos, e outro mais aprofundado, com a história completa da
entidade, com expectativa de lançamento ainda este ano –, conta que, na
segunda reunião, João Spadari Adami levou a sugestão de 21 nomes de
patronos, e só posteriormente chegou-se aos 40 oficiais.
–
Curiosamente, também nunca se passou de 21 acadêmicos presentes nas
reuniões, pois sempre há os que não podem comparecer – acrescenta.
Um
dos primeiros acadêmicos, embora não estivesse na reunião de fundação, é
o historiador Mário Gardelin, até hoje detentor da cadeira número 1.
Ligia Dal Zotto, da 19, é outra do grupo de pioneiros.
Diferentemente
do que muitos pensam, a Academia não reúne apenas escritores. Como
destacado na ata da primeira reunião e nos discursos da data, a entidade
deveria congregar “amantes das letras”, quer eles tivessem ou não algo
publicado. É assim até hoje – inclusive há casos de acadêmicos que só
publicaram após já integrarem o grupo. A própria ACL já realizou a
publicação de cadernos, que eram coletâneas de textos, mas isso não
acontece mais, por falta de verbas. Para o livro do jubileu, foi
conseguida aprovação pelo Financiarte, e para o livro histórico também
será pleiteado esse custeio.
A ACL reivindica, também, uma verba
pública anual de R$ 50 mil, que seria usada para custear o Prêmio
Etnias, a ser concedido anualmente a uma obra de escritor local
publicada no ano anterior. Só na premiação ao vencedor, seriam gastos R$
30 mil – o que o colocaria no nível de alguns dos maiores prêmios
literários brasileiros, como Barco a Vapor.
Saraus literários e trabalho em escolas
A rotina da Academia Caxiense de Letras inclui duas reuniões mensais. A
primeira, administrativa, ocorre na segunda sexta-feira do mês, às 19h.
Entre outros assuntos, ali são comunicados lançamentos de livros e
outras atividades envolvendo os membros do grupo. O principal encontro
da ACL, no entanto, é o literário, realizado no dia seguinte, ou seja,
no segundo sábado do mês, com início às 15h.
A cada edição, um
acadêmico se responsabiliza por trazer um tema para discussão. No
último, Maria Helena Catani falou sobre a poesia em Caxias do Sul, desde
os primórdios até 1972; no próximo, Alice Brandão vai falar sobre trova
literária, promovendo ainda uma oficina sobre o gênero para os colegas.
Depois da palestra ou oficina, ocorre uma confraternização, uma espécie
de “chá das cinco” – que normalmente ocorre lá pelas seis, brinca a
presidente da ACL.
Os trabalhos da academia, no entanto, não são
apenas internos. Os membros participam de feiras do livro por todo o
Estado, promovendo lançamentos, palestras e oficinas. Na feira caxiense,
a ACL mantém sempre uma sala, com várias atividades. E, durante todo o
ano, promove oficinas e atividades para o público externo, como nos
projetos Clube dos Apaixonados pela Leitura, voltado às escolas da
cidade, e Os Sentidos na Criação da Poesia, voltado à comunidade em
geral, ou o Conto(ando), oficina de minicontos que ocorre tanto em
escolas quando na sede da academia.
Retorno à sede
Por muitos anos, a Academia Caxiense de Letras não teve sede fixa. No
início, as reuniões realizavam-se numa salinha nos fundos da Barbearia
Pérola, em frente ao Eberle. Com o tempo, passou por vários lugares –
casas de acadêmicos, clubes, biblioteca municipal, Câmara de Vereadores.
Houve até uma reunião realizada na Praça Dante, quando se viram sem
sede. Com a itinerância, grande parte dos arquivos da ACL acabou se
perdendo.
Há pouco menos de uma década, o grupo começou a se
reunir na antiga capela do Centro de Cultura Ordovás, e, quando da
gestão de José Clemente Pozenato na Secretaria da Cultura, o espaço foi
cedido em comodato para a ACL por 50 anos, renováveis por mais 50. No
entanto, quando o lugar passou por restauração, os acadêmicos acabaram
indo para outra sala, também no Ordovás. Em abril, conseguiram retornar à
capela.
Sessão Solene dia 24/05/2012.
Uma homenagem na Câmara de
Vereadores de Caxias do Sul, às 19h30min desta quinta-feira, dará início
às comemorações dos 50 anos da Academia Caxiense de Letras (ACL). A
solenidade terá a presença dos acadêmicos, devidamente paramentados, e servirá
também para a apresentação, pela primeira vez, do hino do jubileu, com
letra da atual presidente da instituição, Marilene Caon Pieruccini, e
música de M. Osmar Ferreira, simpatizante da ACL e que fará a
apresentação, com voz e violão.
Os festejos do meio século, que
será completado oficialmente no dia 1º de junho, prosseguem na próxima
semana. Nos dias 30 e 31 de maio e 1º de junho, à noite, haverá
programação na sede da Academia, na antiga capela do Centro de Cultura
Dr. Henrique Ordovás Filho, incluindo sarau e coquetel para os
acadêmicos.
No dia 2 de junho, sábado, será inaugurado um
memorial da ACL, também no Ordovás, às 10h, com cerimônia de quebra da
matriz da medalha do jubileu. Ao meio-dia, haverá almoço festivo no
Zarabatana Café.
No domingo, dia 3, às 11h, completam-se as comemorações com uma missa em trovas na Catedral Diocesana.